terça-feira, 8 de janeiro de 2008

crónica sobre uma chegada a Portugal

Lisboa recebeu-me com um friozinho semelhante ao berlinense, mas o seu sol inconfundível abraçou-me com uma ternura e um calor... depressa me senti em casa!
Pouco depois, o calor em si fez-se sentir, e os termómetros depressa me mostraram uns 17 graus, que comparados com os -6 que me acolhiam em Berlim, me pareceram miraculosos, quase impossíveis!
Hum, Portugal dava-me as boas-vindas, a minha Lisboa querida, cidade do meu coração, abria os braços para mim, como uma mãe emocionada, ao ver o filho regressar a casa, depois de um temporal!

Estava emocionada
ao mesmo tempo que sentia algum repúdio pela cena tipicamente portuguesa: aeroporto cheio, desorganização geral, uma espera infernal por uma única mala, uma enchente de gente reclamadora, uns funcionários tudo menos solícitos, trânsito indisciplinado... enfim, uma confusão dos diabos que me agrediu como uma bofetada não prevista.

A culpa é sempre dos outros, "eu bem te disse, tu é que não quiseste ouvir", "eu não posso levantar-me daqui, sou uma mulher muito doente, tenho o pé partido. Puseram-me um ferro cá dentro com 7 parafusos"... mas o que se passa com o português? E porquê esta tendência para partilhar o seu estado clínico com os outros?

Suspiro, suspiro, sorrio, rio-me! Sou sempre tão simpática quando chego a Portugal! Adoro ver-me redescobrir as pessoas, a língua, o ambiente, a comida, tudo o que cá é e em Berlim não é...
Quem me conhece sabe bem que eu não sou uma pessoa simpática. Sou taciturna, tenho um ar sério, sou rabugenta, insuportável!
Mas naqueles primeiros momentos depois de chegar a Portugal torno-me primaveril! Uma Diana temporariamente bem-disposta!


Agora estou no comboio a escrever num lenço-de-papel, com medo de me esquecer desta sensação se adiar mais esta escrita.
De vez em quando paro e repreendo-me a mim própria por não estar a aproveitar a paisagem tão única que a janela me oferece, e este sol tão abençoado!

Durante esta simpatia inicial que me invade encontro-me num dilema... A minha pátria tão querida e tão sua e tão tantas vezes indesejada...
Esta dúvida se amo ou se odeio, esta questão tão estranha, esta sensação que entranha...
Não sei... E no meio desta mistura de sentimentos, hoje, senti-me, de repente, e mais uma vez, mais do que abençoada.
Ao sair do carro, no Parque das Nações, um vento familiar, que reconheci de imediato, invadiu-me os sentidos, com o seu abraço ameno, o seu odor a mar, a rio, a água... hum, encontrei-me finalmente nesta balança de amor e ódio!
Hoje a chegada foi positiva, e Portugal, desta vez, conquistou-me! Que prazer!


23 de Dezembro de 2007

3 comentários:

Rachelet disse...

Também eu chego à conclusão que nunca gostei tanto de Portugal como quando voltava de uma longa ausência num país de costumes em nada comuns.

Me, Myself & I disse...

Sim, faz-nos mesmo muito bem estar fora para ver como afinal o nosso país não é assim tão mau!

Sabes o que mais me irrita? Ouvir toda a gente dizer-me como deve ser maravilhoso viver num país tão desenvolvido como a Alemanha, ainda por cima numa cidade tão urbana e tão moderna como Berlim. Como a diferença entre os dois países deve ser imensa...
Meus amigos, não! Não mesmo! Não pensem que a Alemanha é assim tão diferente, porque não é! Há pessoas preguiçosas, que não fazem nada, há gente conservadora, há adolescentes idiotas e ignorantes, há mães solteiras, há políticos corruptos, que não querem saber... Sim, há algumas diferenças, a cultura também é diferente, não? E sim, podíamos aprender com eles nalgumas situações... mas, por favor, a distância não é mesmo nada grande!

Rachelet disse...

Eu acho que só trocava este nosso rectângulo decadente por um cantito desenvolvido, liberal e com sol e praia. Como ainda não o descobri, vou ficando por estes lados...