quinta-feira, 3 de maio de 2007

O ritual da corte

No outro dia estava eu sentada no café, tão descansadinha na minha vida, de livro e de cappuccino como companhia, até que a minha doce paz se viu minada por um casal que se sentou mesmo ao lado da minha mesa.

Não é que eu não goste de pessoas, até tenho os meus amigos, poucos sem dúvida, porque se há coisa para a qual eu não tenho paciência é para conhecer gente nova! Estar com conversas, tentando descobrir um tema em comum que me una à pessoa que acabei de conhecer é daqueles momentos penosos que eu evito a qualquer custo.

Estive a pensar: não é verdade que a condição humana com respeito às relações é bastante curiosa, direi mesmo esquisita?
Sempre fui uma espécie de bicho-do-mato, quem me conhece bem sabe, se bem que nos últimos 8 anos me tenho aproximado cada vez mais da civilização. Para alguma coisa serve envelhecer! Mas nos meus tempos áureos de selvagem, bem me lembro de desejar ter um livro que me dissesse tudo o que eu gostaria de saber sobre relações humanas. Quando saber avançar, como proceder, o que conversar, telefonar ou não, quando é demais, quando dou a menos... Oh, quantas vezes não desejei um "How to" da vida na minha estante! "Como conhecer pessoas em 5 minutos" ou "Saiba como proceder em sociedade" ou "Como pertencer". Enfim, para mim isto era um dos grandes mistérios da vida, sem qualquer sentido. Passei a minha adolescência assim, onde conhecer alguém novo equivalia a uma viagenzita ao Inferno.
Claro está que me estou a referir a relações normais entre pessoas, aquelas de amizade ou de simples coleguice, porque isso de relações amorosas levaria um blog inteiro para contar! Limitemo-nos ao normal e a este post!

Viver num país estrangeiro exige sem dúvida um esforço extra para conhecer gente. E o facto de a língua não ser a minha, também não ajuda. Oh, que saudades dos meus comentários irónicos ou apenas engraçados que me ajudavam a ultrapassar aquela barreira tão penosa! É que isto numa língua estrangeira não funciona, ou por outra, eu em alemão raramente consigo ser engraçada ou sarcástica! Que golpe! Enfim, já tive os meus momentos de graça, por aqui, mas são pobrezitos comparados com a versão portuguesa, e deixam-me completamente insatisfeita!

Bom, estava eu a contar que a minha leitura e o meu degustar de um cappuccino foram interrompidos por um casal que chegou. Percebi pela forma como falavam e pelo que diziam (então, não tenho culpa que falem alto, não posso ignorar o que dizem!) que tinham acabado de se conhecer, por alguma razão, e que tinham decidido tomar um café. Muito bem! Ainda há gente normal, pensei para mim!

Mas é aqui que a minha teoria se comprova! Como é ridícula a nossa figura quando conhecemos alguém! E agora imaginem isto em dois adolescentes, pronto jovens, vá, de 20 aninhos, que estarão também, claro, porque já estamos na Primavera e as hormonas começam a comprometer-nos, interessados em mais do que uma simples amizade. Afinal de contas, ela é uma giraça e ele está todo vestido à moda e até pagou os cafés!
Risadinhas e gargalhadas, leves toques no braço ou na mão um do outro, palmadinhas leves, "Deixa-me provar o teu cappuccino!" ou "Oh sim, e prova tu o meu latte macchiato! Está muito delicioso!", troca de idades e consequentes risos, troca de ocupações actuais e um "ai que coincidência!", números de telefone para aqui e para ali, e por aí em diante. Digamos que este ritual em questão demorou mais de duas horas e nunca saiu deste padrão, tão engraçado e fofo, pois então!
E a conversa só acabou, com muita pena do macho desta observação, porque a fêmea tinha combinado encontrar-se com a mamã. Pois imagina-se a cara de desilusão do rapazito que já estava a imaginar um serão acompanhado. Mas nada temas, rapaz, a menina também parecia bastante interessada, sim senhora! E aquilo do telefonema não era nada mentira, devia ser mesmo a mamã! Porque raio é que ela iria mentir?

Enfim, eu cá vou ficando na minha
shell, demorando o tempo necessário para conhecer novas gentes e enfrentar aqueles 5 minutos de conversa onde nada parece ligar-nos. E se me serve de consolo, sei que há muitos por aí assim, disfarçados na suas máscaras populares!

5 comentários:

Rachelet disse...

Ui, ainda me lembro da semana que te levou a quebrar gelo e falares comigo. Sim, duas pessoas fechadas numa saleta pequenina não é suficiente para a menina...

Mas sim, quem está de fora e ouve aquelas coisas como «ai o teu pai tem uma sapataria? Que fixe! Eu uso sapatos!» só consegue pensar em como muitas «coincidências» que aproximam as pessoas são fabricadas ou forçadas pelas próprias.

Me, Myself & I disse...

Eheheheh! Pois foi! Ainda estou com pena de ti! O que deves ter sofrido naquela semana! Quantas vezes não te deves ter arrependido de me teres telefonado! :D

Rachelet disse...

Mheh também não foi assim tão mau. Eu não estava habituada a tagarelice. A não ser de you-know-who - e essa era sempre dispensável.

Td menos amorzinho ou sobremesas disse...

Pois é... essa concha é dificil de partir!! Mas lá se consegue, afinal vais tendo bons amigos espalhados por aí! E depois de conseguir entrar no teu mundo,verdade seja dita, que a vontade de sair também não é muita! Bjs!!

Me, Myself & I disse...

Hum, tantos elogios... Será que me queres pedir alguma coisa? ;D

I love you too, R.!
Beijinhos!