terça-feira, 27 de março de 2007

O Melhor Português de Sempre!


Hoje comecei o dia a rir! A gargalhada ainda agora reina em mim, não consigo desfazer este sorrido estúpido de felicidade que tenho no rosto!
Minhas senhoras e meus senhores, apresento-vos o Melhor Português de Sempre!


António de Oliveira Salazar, um dinossauro da democracia portuguesa, grande defensor dos direitos humanos, que com o seu governo trouxe a Portugal uma das melhores épocas que o nosso país alguma vez viveu, com liberdade e segurança. Aqui está, minhas senhoras e meus senhores, o melhor português de sempre!
Não estão orgulhosos por 41% das 159.245 pessoas que votaram terem escolhido este senhor? Eu sim! E percebo perfeitamente porque o fizeram!
Aliás, quem eram os outros que estavam na lista dos 10 mais? Álvaro Cunhal? O quê, esse é aquele das sobrancelhas brancas? Mas o que é que ele fez mesmo? Fernando Pessoa? Pessoa, Pessoa... o nome diz-me alguma coisa, mas não estou a ver. D. Afonso Henriques? É aquele que tem uma estátua em Guimarães, não é? Oh, mas se é só por isso, também não entendo porque está nos 10 mais. Depois há o Infante D. Henrique! Esse eu sei quem é! É aquele do chapéu muito giro! Tem muito gosto, o senhor! Deve ser estilista!
Bom, havia mais uns poucos, mas eu não faço ideia de quem sejam. Também não devem ser importantes.
Além disso, fico muito contente por serem só homens! Sinto-me muito mais aliviada! Ufa, estava com medo que escolhessem alguma mulher! É que sinto-me sempre tão embaraçada com as mulheres que temos na nossa história... Ainda bem que o nosso povo ainda continua a lutar pelo Western Canon:
Dead White European Males.
Que horror, só de pensar que podiam ter escolhido a D. Maria II que até, vejam lá a vergonha, resolveu acabar com o tráfego de escravos. Ou a Florbela Espanca! Já viram o que era Portugal ser representado por uma doida daquelas? Ou por exemplo Adelaide Cabete que até lutou pelo voto feminino! Livra, mas será que ela não sabia que as mulheres não deviam votar por uma razão? Dah! Para quê? Para isso é que servem os nossos maridos, que pensam por nós e trazem o sustento para casa. Que vergonha!
Neste preciso momento, estou muito feliz por ser portuguesa e só tenho pena de não ter podido nascer homem. Terei que viver com esse castigo para o resto da minha vida.

2 comentários:

Anónimo disse...

É o que se chama «uma no cravo, outra na ferradura». Se o referendo pelo aborto ganhou, já o Salazar tem de vir compensar a balança.

Dificilmente se esperava outra coisa de um país cuja cultura anda toda à volta da palavra saudade - mesmo quando não se conhecia o tempo pelo qual se sente saudades... Felizmente. E vá lá, já chegámos ao século XX... até há pouco, ainda penávamos pelo D. Sebastião e os Descobrimentos.

As prisões políticas, a repressão, a tortura, a guerra colonial, a massificação e catolização obrigatória de um povo... isso não importa, porque no tempo do Salazar, 5 mil réis dava para comprar uma casa!

E imaginar que, se Salazar existisse, dificilmente teríamos blogues...

Me, Myself & I disse...

É realmente difícil entender um povo assim que, se por um lado vota sim no aborto, por outro elege um ditador como melhor português de sempre.
Tenho sempre a esperança estúpida de que isto um dia se endireite.
Sim, tens razão quando dizes que o que infelizmente importa é que na altura se tinha muito mais dinheiro, e agora as coisas são mais difíceis.
Ainda ontem falava com a minha aluna sobre isso. Ela vivia na DDR, e digo-te, havia boas razões para lá viver. O sistema educacional, o sistema de saúde, a cultura, as casas a que alguns tinham direito, coisas tão básicas como ter a pílula de graça, apoio em termos culturais e desportivos... havia tantas boas razões para lá viver... No entanto, a única que importa, quando pensamos bem, era a única que faltava: liberdade.
E onde quer que seja, tanto aqui como em Portugal, a liberdade não tem preço, e é isso que as pessoas não parecem perceber.